terça-feira, 20 de novembro de 2012

ESTARÁ JESUS DORMINDO?





Muitas vezes acontece de não serem religiosos todos os membros de uma mesma família. Tal fato tem grande repercussão nas crianças, que sofrem por verem o pai ou a mãe, um tio ou os avós distantes da Igreja e das devoções que elas, na pureza de seu coração, já nutrem desde pequenas.

Era o que se passava com Robertinho. Sua mãe, dona Zulmira, era uma boa senhora, muito piedosa e trabalhadeira. Sempre dava bons exemplos em casa, aos filhos e ao esposo, o senhor Alfredo. Este, porém, era muito obstinado. Cumpria com suas obrigações de chefe da casa, deixando, no entanto, a Religião por conta da esposa, e não queria nem saber de falar em Missa, oração ou qualquer tipo de devoção.
Estará Jesus dormindo?
“Jesus está na igreja, dentro do sacrário,
esperando a visita de cada um de vocês”

Dona Zulmira sofria com isso e as crianças também. Todas as noites, depois do jantar, ela se reunia com Robertinho e Manuel, o filho mais velho, e rezava com eles o terço aos pés de Nossa Senhora do Bom Conselho. Pediam a Ela que aconselhasse Alfredo a retomar o bom caminho e nunca perdiam as esperanças. A mãe contava muitas histórias da intercessão de Maria e Jesus, incutindo- -lhes, também, um grande ardor pelo Santíssimo Sacramento, a quem iam visitar todos os domingos, na Missa.

Contudo, o senhor Alfredo estava cada vez mais fechado e só queria trabalhar, comer, dormir e se divertir com os amigos, nem se preocupando com nada religioso. Já estava até mais distante de sua família. Várias vezes as crianças encontraram a mãe derramando discretas lágrimas...

Chegara a época do catecismo para Manuel. Com seus sete anos completos, frequentava a catequese da paróquia, aos sábados de manhã, preparando-se para a Primeira Comunhão. Robertinho, com apenas cinco anos, ainda não podia acompanhar o irmão, pois sequer aprendera a ler. Mas ia com a mãe levar e buscar o menino, à sacristia da igreja paroquial. Manuel voltava contando muitas histórias de crianças piedosas e dos santos, de anjos, de Jesus e Maria, o que deixava o irmão encantado.

Em um desses sábados, o pequeno chegara muito cedo para buscar o Manuel e a aula não havia terminado. Entretanto, ele obteve a autorização do professor para ficar no fundo da sala, ouvindo.

O mestre estava falando das maravilhas operadas por Jesus, na Sagrada Eucaristia:

- Jesus está na igreja, dentro do sacrário, esperando a visita de cada um de vocês. Ele fica muito contente quando uma criança vai Lhe fazer um pouquinho de companhia. E tenham certeza: tudo o que pedirem a Ele, na Sagrada Eucaristia, Ele atende mesmo! Robertinho ficou muito impressionando com esta afirmação e desligou- se das palavras do professor... Antes de terminar a aula, escapou-se da sacristia e entrou na igreja, sozinho. Havia ali um ambiente de muita paz. Ele ficou um momento admirando as luzes dos vitrais que coloriam as colunas e o chão do templo, bem como o grande altar de mármore.

Dirigindo-se ao presbitério, o menino subiu os degraus devagar e aproximou-se do grande sacrário de ouro, parecendo este brilhar mais especialmente naquela manhã. Chegando bem pertinho, tentou bater à porta, mas era tão pequenino que não a alcançava. Seu coração pulsava apressado e ele estava emocionado, por estar tão próximo de Jesus.

Viu por ali o banquinho que o sacristão usava para acender as velas dos grandes castiçais do altar e não teve dúvida. Arrastou-o até perto do sacrário e subiu. Batendo suavemente na portinha do sacrário, balbuciou:

- Jesus... Jesus...

Não obtendo nenhuma resposta, falou mais alto:

- Jesus! Jesus!
Estará Jesus dormindo?
“Desperta, Jesus, preciso Te falar!!!”

Silêncio... Não ouviu ninguém responder. Falou, então, de si para consigo:

- Estará Jesus dormindo e não me ouve?

Aproximando sua cabecinha daquela porta bendita - que agora reluzia ainda mais por um raio de sol que começara nela a incidir, iluminando o altar e o menino - fez uma concha sobre a boca com as mãozinhas e gritou:

- Desperta, Jesus, preciso Te falar!!!

Oh, maravilha! De dentro do sacrário, uma voz grave se fez ouvir, ecoando no templo vazio:

- Sim, meu filho!

Aqui estou para ajudar- te. Que necessitas?

- Ah, Jesus! Queria Te pedir para converter meu pai. Ele é muito bom, mas não quer saber de rezar e minha mãe sofre muito...

- Não te preocupes, Robertinho. Tua visita me alegrou tanto, que vou converter teu pai. Vai em paz!

- Muito obrigado, Jesus!

Descendo dali, voltou para junto da mãe, que estava entrando na igreja com Manuel para despedir-se de Nosso Senhor, pois já havia terminado a catequese, e lhe disse:

- Mamãe, hoje papai vai rezar conosco. Jesus me disse!

A mãe apenas sorriu, não compreendendo as palavras do filho, e voltaram para casa.

Naquela noite, depois do jantar, quando iam começar a rezar, Alfredo se aproximou, sem graça, mexendo um terço nas mãos, um tanto nervoso, e perguntou:

- Posso rezar também?

Robertinho puxou o pai pela mão e lhe deu um abraço, dizendo:

- Claro, papai! Já o estávamos esperando...

Depois da oração, o pai, com lágrimas nos olhos, pediu perdão à família por ter sido tão obstinado e se arrependia de estar afastado de Deus. Disse sentir que Nossa Senhora, naquela invocação do Bom Conselho, lhe havia feito compreender o quanto Jesus é bom e como somos nada sem Ele. E, em seu coração, Ele lhe dizia esperá-lo, em sua imensa misericórdia, há muito tempo!

No dia seguinte, o senhor Alfredo foi o primeiro a aprontar-se para ir à Missa, pois queria se confessar antes, para "limpar a alma", como dissera, e nunca mais deixou de visitar a Jesus no Santíssimo Sacramento, com a certeza de ali estar Ele, a todo o momento, à espera de nossa companhia e pronto para atender-nos.


Irmã Lucília Maria Ribeiro Matos, EP

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