Irmã Rosa Maria é consagrada há 20 anos e atua como assessora executiva para a comunicação na CRB Nacional
Deixar tudo para seguir a Cristo e servir os irmãos. Essa é a missão daqueles que são chamados por Deus à vida consagrada.
Durante
esta semana, a Igreja Católica recorda todos aqueles que se dedicam à
essa vocação, encontrada na vida monástica, ordem das virgens, eremitas,
viúvas, vida contemplativa, vida religiosa apostólica, institutos
seculares e sociedades de vida apostólica, conforme explica o subsídio para o mês vocacional.
Para celebrar a data, o noticias.cancaonova.com
entrevistou Irmã Rosa Maria Martins Silva, de 43 anos, dos quais 20
como religiosa na Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos
Borromeo - Scalabrinianas. Atualmente ela realiza um trabalho
diferenciado como jornalista e Assessora Executiva para a Comunicação da
Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB Nacional).
Irmã
Rosinha, como é conhecida pelos colegas, conta como foi seu chamado, um
pouco de sua trajetória como consagrada, seu trabalho com os migrantes e
seu amor pela área da comunicação.
Leia a entrevista na íntegra:
noticias.cancaonova.com - Como foi seu chamado vocacional?
Irmã Rosa Maria:
Cresci numa família muito católica, de 11 irmãos. Papai e mamãe nos
reunia toda noite para rezarmos o terço juntos. Faltar às Celebrações
Eucarísticas, nunca. Se colocar a serviço dos mais necessitados, sempre.
Me recordo ainda com meus 9 ou 10 anos, perambulando pelas ruas da
minha cidade pedindo esmolas para ajudar comunidades ou famílias
carentes. Era a alegria da minha vida.
Penso que esta base
religiosa me preparou para responder a um chamado que mais tarde, Jesus
me faria. O chamado senti nas Missas dominicais quando o padre, sempre
através do Evangelho, contava uma história de Jesus, o que Ele fazia,
sua bondade, seus milagres, sua defesa daqueles que tinham a dignidade
ferida: os pobres, os marginalizados, as mulheres, os cegos, os leprosos
(lágrimas). Numa dessas Missas, vi uma senhora com uma veste azul,
evidentemente era uma freira. Puxei a blusa da mamãe e falei baixinho ao
ouvido dela: “mamãe, quero ser como aquela mulher lá”. E sempre
persegui este propósito, do qual não tirei mais os olhos.
noticias.cancaonova.com - Quando
pensamos em religiosas, as imaginamos trabalhando com crianças,
idosos... mas encontramos irmãs como a senhora, jornalista, atuante na
área da Comunicação. Como é essa realidade?
Irmã Rosa Maria: O
que fundamenta a minha escolha por esta área é a certeza de que não há
evangelização, não há encontro com os mais pobres e excluídos, não há
testemunho sem a comunicação. Para falar de Deus e experienciá-Lo,
precisamos aprender a ouvir a mensagem, a ser mensagem, a transmiti-la.
Esse
é o grande mérito da Comunicação no processo evangelizador: Dela
depende a eficácia e a eficiência da nossa missão. Um cristão que não
sabe ouvir, que não sabe “escutar com os ouvidos e com o coração”, não
evangeliza, não transmite a Mensagem (Jesus Cristo). Já conhecemos o
ditado de que o Meio é a Mensagem. Em se tratando de Cristianismo, de
evangelização, o meio mais eficaz para a transmissão da mensagem sou EU.
Daí a importância de escutar Deus na oração, nas realidades que nos
cercam, no grito dos sofredores, dos oprimidos da história para dizer ao
mundo quem Deus é, quem o Pai do céu é.
E evidentemente os
Meios de Comunicação: o rádio, a TV, o Jornal, a internet, são espaços
poderosos para quem vive nessa dinâmica da evangelização. Podemos e
devemos aproveitar esses meios para que Aquele no qual acreditamos e
D’ele fizemos a razão maior de nossa existência, possa ser mais
conhecido, servido e amado.
noticias.cancaonova.com - Em que áreas a senhora já trabalhou até chegar no que faz hoje?
Irmã Rosa Maria: Tenho
20 anos de Vida Consagrada e 43 de idade. A maior parte destes
trabalhei na rede scalabriniana de educação, mas atuei na periferia de
São Paulo, em áreas de risco, trabalhando com migrantes. Experiência que
não me esqueço jamais: Deus está em todo lugar, mas de maneira muito
especial ele se encontra onde a dignidade do ser humano se vê perdida. E
isso é maravilhoso.
noticias.cancaonova.com - A
congregação da senhora não faz o uso do hábito, utilizando roupas do
cotidiano. Esse jeito de se vestir atrapalha ou ajuda na sua missão?
Irmã Rosa Maria:
Quando entrei, se recordam a fala anterior eu queria ser como aquela
mulher de roupa azul? (uma religiosa de hábito). Quando entrei na
Congregação e comecei a estudar a nossa missão que é o exercício da
compaixão para com aqueles que são obrigados a deixar a sua terra em
busca da sobrevivência, os migrantes, os ciganos, os circenses, pessoal
da aviação civil, marinheiros, expatriados, imigrantes, comecei a
entender que só uma coisa me era necessária: um coração grande, bem
grande, um ouvido largo, braços imensos, para acolher escutar e guardar
esses queridos de Deus. O hábito nesse sentido se tornou secundário.
Acho lindo o hábito, mas acho que usar roupas comuns facilita, em muitos
casos, o trabalho missionário, porque nos aproxima mais das pessoas.
noticias.cancaonova.com - No
trabalho que a senhora exerce na CRB lida com religiosas (os) de várias
congregações diferentes. Como a senhora percebe a riqueza dessa
diversidade de carismas na Igreja?
Irmã Rosa Maria:
“O Espírito sopra onde quer, como e quando quer”. Essa expressão me é
muito valiosa porque Deus é o sumo bem. Ele é o Equilíbrio e por isso
fez tudo tão perfeito e para restabelecer a harmonia entre os seres, Ele
providencia formas, fala às pessoas nas mais diversas realidades e as
convida a ajudar nesta afinação do universo.
Bacana. É assim que
surgem as mais variadas formas de ajudar o mundo a ser conforme o sonho
de Deus: uns lutam pela dignidade das crianças, outros pela prevenção do
tráfico, outros para defender os migrantes, outros para proteger os
idosos. Nosso Deus é criativo e de maneira muito amorosa Ele chama e dá o
dom, a força necessária para que a pessoa que foi chamada a
restabelecer a ordem nessa realidade da história consiga alcançar o
objetivo.
Bendito o fundador, bendita a fundadora que ouviu o
chamado de Deus e naquele período da história harmonizou algumas
realidades, mas diria, mais bendito, bendita, louvado e louvada seja
aquele e aquela que respondendo ao chamado de Deus, tem a coragem de,
neste mundo de hoje, remar contra a corrente e acreditar que a ordem, a
harmonia, a sinfonia do universo, a recuperação da dignidade perdida é
possível. Parabéns a você, pai, mãe, leigo, leiga, consagrado,
consagrada que acredita neste projeto de Deus e não poupa tempo na luta
para torná-lo realidade.
fonte: http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=287128
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