terça-feira, 16 de março de 2010

Chegada do Bom Jesus a Touros


Chegada do Bom Jesus a Touros

Narra a tradição que a imagem do Senhor Bom Jesus dos Navegantes chegou a Touros alguns anos antes de findar o século XVIII, e que teria sido encontrada por pescadores que demandavam a praia, como então era costume, logo que os galos amiudavam. Ao atravessar a pontícula existente sobre o rio, viram na obscuridade da aurora, um objeto boiando na correnteza mansa e translúcida do Rio Maceió. Pensando que se tratava de uma camurupim, como não raro acontecia, pegaram uma rede de pesca e pularam dentro d’água a fim de capturar o grande peixe. Mas ficaram transtornados ao constatar que ao invés de um peixe, era um caixão. A maré alta o havia trazido do mar, encalhando-o na água rasa e lodosa da margem.
- Ora bolas! Um caixão!
- Um caixão!?
- Sim, uma caixão. Mas não está vazio.
- Que será que tem dentro?!
- Quem sabe?! Talvez um tesouro!
- Puxa! Um tesouro?! Oh! Céus!
- Cuidado! Atenção! Pode ser perigoso!
- Que nada! Ah! oba! Viva! É um caixão cheio de ouro!
- E dos grandes!
- Ufa! Arre! Como pesa!
- Basta! Um caixão?!
- Como ouro dentro!?
- Sim, uma arca! Bem grande! Uma arca!
- Oh! Estamos ricos! Deve valer umas cem patacas!
- Oxalá! Talvez mais!
- Tomara que valha!
- Hum! Heim?!
- Uai! Tô feliz!
- Vamos abri-la!
- Hum! Heim?!
- Uai! Tô feliz!
- Vamos abri-la
- Pst! Caluda!
Excitados, ergueram e puxaram a arca enorme, semi-afundada na lama, colocando-a encima da ribanceira. Abri-la... que esplendor! Que luxo! Que suntuosidade! Que beleza! Forrada de veludo a arca era ampla e macia. Cheira a mirra e incenso.
- Meu Deus!
- Um santo! Enorme! Um Santo!
Ficaram paralisados, tomados de grande comoção. Dentro da arca, envolta em brancos linhos, a imagem de um crucificado de face angustiada os membros retesados, retorcidos dir-se-ia repousar das agruras da morte. Das feridas feitas pelos escravos, era como se o sangue ainda brotasse vermelho, vivo, borbulhante...
Lívidos, os pescadores entreolhara-se. Testemunhavam, sem dúvida, um milagre.
Então, contritos se ajoelharam. Desvelados.
- A hora é de rezar - um deles disse como se ordenasse. – Essa imagem foi Deus que mandou! –
- Deus e Nossa Senhora! Disse um devoto de Maria.
Tiraram-no da caixa de madeira. Sobre o crucificado, os primeiros raios da aurora dardejaram revestindo-o de uma película de luz cor de ouro.
- Façam o sinal da cruz. - O mais velho falou. Os outros obedeceram, resignados, os olhos presos na imagem. Em tamanho natural, esculpida em madeira, a imagem era um primor de beleza sagrada, dealvada por uma luz interior que lhe realçava a circunspeção e ameigava-lhe ao mesmo tempo os traços fisionômicos delicados. Há tanto tempo dentro d’água, nem seque tinha sido molhada.
De onde teria vindo? Quem a pôs a navegar?!
Transfigurados pela fé e a emoção, os pescadores conduziram-na sobre os ombros na direção do arruado. Iam embebidos em suas próprias utopias. Durante todo o percurso rezavam e choravam. Monstranda ao povo em toda a sua pureza sobrenatural, a imagem logo se transformou em objeto de culto e adoração. Naquele dia não houve pescaria. Ninguém se incomodou. No outro dia também. Toda a gente queria tocar e ver de perto a imagem. Ver com seus olhos, tocar com as próprias mãos. O vulto era milagroso! – diziam a toda a hora.
Alternando-se na guarda, haurindo a atmosfera de santidade que emanava do crucificado, os pescadores não se afastavam. A cada um que chegava, atraído pela notícia, ia ficando. Todos queriam saber de onde tinha vindo a imagem.
Surgiram mil histórias. A mais convincente levantara a hipótese de que a imagem, viajando no convés de uma embarcação, soltara-se das amarras e caíra no mar. As correntes marinhas e os ventos se encarregavam de conduzi-la até a costa. E então, na maré de enchente, entrara pela barra, encalhando próximo da pinguela usada para o tráfego entre a praia e a povoação e visse versa.
- Só pode ter sido guiada pela Divina Providência! – a toda hora alguém exclamava.
Vendo a necessidade de religião nessa terra sem lei, Deus mandou sua imagem! – outros diziam:
- Oh, Bom Jesus! Sede vós a nossa devoção! – disse um frade intinerante, que impressionado com a notícia do achado, chegara, esbaforido, ao povoado.
E assim, em menos de um mês a notícia espalhou-se por toda a região. Vindas de longe, as pessoas já falavam em graças obtidas e até mesmo em milagres. “Fulano era aleijado e ficou curado! Já largou as muletas!” “Sicrano, mordido de cascavel, pegou-se com a imagem está vivinho da silva para testemunhar!”

Texto do Escritor Nilson Patriota

Um comentário:

  1. Parabéns, ao magnífico trabalho realizado pelo Movimento da Mãe Rainha, em Touros-RN.
    A Terezinha Lira-coordenadora, minha gratidão, pela amizade construída através do amor de nossa Mãe, Maria Santíssima.
    Dione Maria do Nascimento
    Touros-RN

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