
Sozinho ou em comunidade, ao rezar o “Credo” você proclama
solenemente: Creio na vida eterna. O que quer dizer essa afirmação? Em
que você realmente acredita?
A morte, para o cristão, longe de
ser o fim de tudo, é a possibilidade de um encontro com Jesus Cristo; é a
entrada na vida eterna. Com ela, termina o tempo aberto ao acolhimento
ou à recusa da graça divina.
O Novo Testamento fala da
retribuição que cada um receberá, após sua morte, em função de sua fé e
das obras que realizou. Vemos isso na parábola do pobre Lázaro (Lc 16,
19-31), nas palavras de Cristo ao Bom Ladrão (Lc 23, 39-43) e em
expressões como a do apóstolo Paulo: “Porque teremos de comparecer
diante do tribunal de Cristo. Ali cada um receberá o que mereceu,
conforme o bem ou o mal que tiver feito enquanto estava no corpo” (2Cor
5,10).
O autor da Carta aos Hebreus apresenta uma afirmação na
mesma linha: “Está determinado que os homens morram uma só vez e logo em
seguida vem o juízo” (Hb 9,27). Portanto, cada pessoa, depois da morte,
receberá a retribuição eterna, num juízo que colocará sua vida em
relação à de Cristo e aos apelos que nos deixou no Evangelho. São João
da Cruz dizia: “Seremos julgados quanto ao amor!”
Os que morrerem
na graça e na amizade de Deus, e que estiverem totalmente purificados,
viverão para sempre em Cristo. Passarão a ver Deus “tal como ele é” (1Jo
3,2), face a face. O céu não é um “lugar” (na eternidade não há tempo
nem espaço), mas um “estado de vida”.
Estar no céu é viver com a
Santíssima Trindade, em comunhão de vida e de amor; com a Virgem Maria,
os anjos e todos os que também morreram na graça de Deus. O céu é o fim
último e a realização de todas as aspirações do ser humano; é o estado
de felicidade suprema e definitiva.
Os que morrerem na graça e na
amizade de Deus, mas que não estiverem completamente purificados,
embora tenham garantida sua salvação eterna, passarão, após a morte, por
uma purificação, a fim de obter a santidade necessária para entrar na
alegria do céu (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1030).
A
Igreja denomina “Purgatório” essa purificação final dos eleitos, que é
completamente distinta do castigo dos condenados (Cf. 1Cor 3,15; 2Mc
12,43-45). Mais do que um castigo, o Purgatório é uma preparação para o
encontro com aquele que é santo por natureza, e diante do qual não pode
haver imperfeições.
Já os que morrerem em pecado mortal, serão
excluídos definitivamente da comunhão com Deus. As afirmações da Bíblia e
os ensinamentos da Igreja a esse respeito nos asseguram que Deus não
predestina ninguém para viver eternamente longe dele. É a própria pessoa
que livremente o rejeita. É necessário, pois, usar a liberdade com
responsabilidade, pois um dia cada qual responderá por seus atos,
palavras e omissões. “Entrai pela porta estreita, porque largo e
espaçoso é o caminho que conduz à perdição. E muitos são os que entram
por ele. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho que conduz à
vida. E poucos são os que o encontram”, disse Jesus (Mt 7,13-14).
A
ressurreição dos mortos, “dos justos e dos injustos” (At 24,15),
antecederá o Juízo Final. Esse revelará o que cada um fez de bem ou
deixou de fazer durante sua vida terrestre. Como não nos lembrar, aqui,
da grandiosa descrição de Cristo? “Quando o Filho do homem voltar na sua
glória e todos os anjos com ele, sentar-se-á no seu trono glorioso.
Todas as nações se reunirão diante dele e ele separará uns dos outros...
Então o Rei dirá aos que estão à direita: “Vinde, benditos de meu Pai,
tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo,
porque tive fome e me destes de comer...”(Mt 25,31-46).
O Reino
de Deus chegará, então, à plenitude. Os justos reinarão com Cristo para
sempre, glorificados em corpo e alma. Então, Deus será “tudo em todos”
(1Cor 15,28).
Creio na vida eterna! Justamente porque acredita
nessa verdade de fé, você é chamado a viver, mais intensa e santamente,
cada dia e cada acontecimento. Afinal, é aqui e agora que você prepara
sua eternidade.
Dom Murilo S.R. Krieger, sc